segunda-feira, 16 de junho de 2008

Karzai ameaça perseguir talibãs no Paquistão


Islamabad rejeita qualquer tentativa de ingerência externa Hamid Karzai nunca fora tão longe: após o ataque talibã que na sexta-feira libertou mil detidos de uma prisão de Kandahar, Sul do Afeganistão, ameaçou ontem perseguir estes guerrilheiros do outro lado da fronteira, ou seja, no Paquistão. "O Afeganistão tem o direito de ir destruir os redutos de terroristas do outro lado da fronteira em nome do direito à legítima defesa", afirmou o Chefe do Estado afegão, ontem citado pelas agências internacionais. "Quando eles atravessam a fronteira, a partir do Paquistão, para vir atacar e matar forças de segurança afegãs e soldados da coligação, isso dá-nos o direito de fazer o mesmo. Vamos persegui-los e vingar todo o mal que fizeram ao Afeganistão ao longo destes últimos anos."Islamabad logo respondeu. "Não toleraremos nenhuma ingerência, pois da mesma forma que não interferimos nos assuntos internos de qualquer um outro país, não toleraremos ingerência nos nossos", declarou, na televisão, o primeiro-ministro paquistanês, Yousuf Gilani, lembrando que o Paquistão é um Estado soberano que procura ter relações amigáveis com o Afeganistão. As relações entre os dois países, o primeiro com 160 milhões de habitantes e acesso à arma nuclear, o segundo com 30 milhões, são frequentemente marcadas por tensões ligadas à actividade dos talibãs e ao combate ao terrorismo. Nunca tinham, porém, chegado a este nível. Karzai, que falava em Cabul, disse representar a comunidade pastune espalhada pelos dois países. "Quando Baithullah Mehsud [guerrilheiro talibã no Waziristão] anuncia que vai fazer a jihad no Afeganistão [enquanto negoceia a paz com o novo Governo do Paquistão] isso quer dizer que a linha de Durand deixou de existir", disse o líder afegão, referindo-se à fronteira que separa os dois países vizinhos. "Baitullah Mesud é uma criação dos serviços secretos paquistaneses e foi treinado para lutar contra os pastunes paquistaneses e o povo afegão. É o dever do Afeganistão livrar os pastunes paquistaneses desta sua tirania", acrescentou Karzai, ele próprio de origem pastune. Na mesma altura, a polícia afegã avisou todos os habitantes da região de Kandahar para que não dessem abrigo aos detidos que escaparam da prisão, na sexta-feira, sob pena de sofrerem as consequências. O ataque à prisão, com recurso a um suicida, representa uma das acções mais audaciosas e espectaculares levadas a cabo pelos talibãs no Afeganistão desde 2001, ano da invasão do país, para derrubar o seu regime.

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