terça-feira, 27 de maio de 2008

POR SE ENTREGAREM À PRÁTICA DE XENOFOBIA

Chissano diz que muitos sul-africanos são ignorantes
➢Também há muitos sul-africanos com grandes negócios aqui (em Moçambique). E se tivéssemos que os expulsar? Não sei o que seria deles – antigo Presidente da República de Moçambique, Joaquim Chissano
➢Tem de haver uma persistência na educação das pessoas e uma busca de solução para os problemas sociais que fazem com que as pessoas sejam delinquentes – Idem
O antigo Presidente da República de Moçambique, Joaquim Chissano, entende que muitos sulafricanos ignoram as suas origens e sugeriu que estudem a História por forma a não mais cair em tentações xenófobas.
“A maioria dos sul-africanos não sabe que o Império de Gaza provem do reinado zulu. O mesmo
se passa com o Zimbábuè, as pessoas não sabem, por falta de educação, o que liga a zona de Matabelelândia a Moçambique”, exemplificou, de forma didáctica, o antigo estadista moçambicano,
citado sexta-feira pela Agência de Informação de Moçambique (AIM).
Foi desta forma que o único Presidente da República de Moçambique que renunciou voluntariamente
ao cargo e permanece vivo reagiu pela primeira vez em entrevista a um órgão de media nacional às manifestações de xenofobia que há sensivelmente duas semanas varrem diversas regiões da África do Sul e que já causaram dezenas de mortes, mais de 20 mil regressados e destruições de bens materiais vários.
Quinta-feira Chissano fizera declarações idênticas em entrevista à Agência Noticiosa Portuguesa LUSA.
Persistir na educação
“Tem de haver uma persistência na educação das pessoas e uma busca de solução para os problemas sociais que fazem com que as pessoas sejam delinquentes”, acrescentou o vencedor do Prémio Mo Ibrahimo de Boa Governação em África.
“A criminalidade toma um outro carácter quando recai sobre estrangeiros”, afirmou Joaquim Chissano, em declarações à agência LUSA a partir da capital moçambicana.
Chissano é hoje docente da cátedra sobre “Gestão e Resolução de Conflitos” na Universidade Politécnica de Moçambique.
E se...
Para Chissano é importante que os protagonistas de actos de xenofobia saibam qual é o significado da integração regional, que saibam que ela significa a abertura de fronteiras, que não se pode impedir a entrada de nenhum cidadão regional desde que ele o faça legalmente.
“(...) Também há muitos sul-africanos com grandes negócios aqui (em Moçambique). E se tivéssemos que os expulsar? Não sei o que seria deles”, comentou Chissano, um homem com
reputação de pragmatismo e diplomata por excelência.
“Esquecem-se que os sul-africanos estão noutros países e não só estão lá só a viver como também a fazer negócios e a explorar a riqueza de outros países - e não há animosidade contra eles”, prosseguiu Chissano, em declarações à LUSA.
Prosseguindo, Chissano disse que as afinidades dos africanos não são apenas étnicas e linguísticas, acrescentando que “o mundo hoje está todo ligado. Os africanos continuam a sair para a Europa sem problemas”, por exemplo.
O antigo estadista aplaudiu a iniciativa dos moçambicanos de abandonar, voluntária e massiçamente a vizinha África do Sul, para salvaguardarem a sua integridade física, mas apelou à calma por acreditar que “a violência não é uma vontade de todo o povo sul-africano, mas de algumas pessoas”, para
depois manifestar esperanças de que o sossego regressará em breve à terra de Nelson Mandela.
Chissano considerou, inclusivamente, que “a xenofobia revela que a integração regional deve ser
reforçada para se eliminar as diferenças e passarmos a ser uma única entidade”.

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