sábado, 31 de maio de 2008

Binómio deficitário entre nós!..

Existem elementos que quase sempre são esquecidos da equação mesmo que ocasionalmente se fale deles. Nesta categoria podemos referir a palavra e questão patriotismo. Associado a democracia quase nunca ele aparece referido.Por vezes cai-se numa monotonia e mecanicismo redutor. Montam-se estruturas ou instituições democráticas, realizam-se eleições periódicas e depois dizem que vivemos em democracia. A vida de um país tem as suas estatísticas mas não se resume a um mero exercício estatístico. As belas proclamações sobre a Unidade Nacional, sua necessidade, resultam vazios quando não há factos concretos que corroborem com elas. Uma Unidade Nacional que não tenha em vista algo concreto, consensual, de valor apreciado por todos, e destituída de sentido e não possui valor real. Todas as tentativas de ludibriar os cidadãos tem dias contados como os acontecimentos vezes sem conta o mostram. Enganou-se quem pensou que podia enganar o povo moçambicano o tempo todo. Uma liderança que provocou a desarticulação do país, que inviabilizou todo um projecto de construção de uma nação sólida e vibrante foi perdendo a confiança dos seus concidadãos ao longo do tempo. Agora martelam as teclas contidas no compêndio da demagogia, agitam bandeiras e até procuram e usam o orçamento de estado para adquirir mais bandeiras mas os cidadãos estão ganhando consciência do logro em que durante décadas estiveram metidas. Pode-se tentar manipular, reprimir os cidadãos, mesmo comprar parte deles mas nada disso vai conseguir conquistar a sua simpatia. O binómio patriotismo-democracia apresenta grandes deficits entre nós e muito pouco esta sendo feito para inverter o cenário. Todos os países que conseguiram realizar algo notável na sua história, fizeram-no através de uma combinação entre patriotismo e participação. O desenvolvimento de um país depende da participação de seus cidadãos nas tarefas pertinentes. Com trabalho, criatividade, inteligência, empenho e entrega viu-se emergir casos de resistência incrível que transformaram pequenos países em autênticas potências. Mercantilismo político, a venda e o retalhar do país segundo interesses específicos de políticos significam que não há amor pelo país, que não há patriotismo. Sem patriotismo deixa de haver motivação e interesse em trabalhar e empenhar-se pelas causas nacionais e públicas. Quando se olha para o Moçambique em que virou cultura crer-se que cabrito come onde está amarrado, se observa a luz do dia agentes da autoridade policial extorquindo cidadãos apanhados em flagrante delito criminal, quando funcionários da Alfandegas e Policia de Transito, PIC, Tribunais se compram com algumas notas, quando os responsáveis pelos pelouros diversos da administração pública comercializam a razão de ser de suas funções, coloca-se o país numa situada de crise séria, com consequências graves para o tecido nacional. Aquele desenvolvimento que se diz não estar acontecendo deve-se a razões concretas. Quase todos os projectos que se realizam beneficiam quase sempre o mesmo grupo de pessoas. Para a maioria a festa só acontece quando conseguem beneficiar de mais uma fonte de água. Para uns moçambicanos que poderíamos denominar de segunda um fontanário é motivo de celebração. Para os moçambicanos de primeira sua fome em grandezas e luxos não é saciável. Agora está na moda exibirem-se com os últimos modelos de automóveis e com palacetes em que até é usado mármore italiano como se o de Montepuez não servisse. Fruto de salários auferidos honestamente é que todo este fausto não provem. Os governantes fecham os olhos a todo o tipo de irregularidades e ilegalidades. O verbo praticado e não tocar nos eleitos, nos especiais, nos detentores do poder, nos protagonistas da libertação nacional. Os Estatutos do movimento de libertação que ajudaram a fundar foram sendo rasgados conforme os apetites da elite foram crescendo. Uns poucos vivem escandalosamente bem e a maioria vegeta sem saber o que será o almoço de amanhã. Aqui aparece a questão patriotismo, equilíbrio, democracia, dignidade governamental e das elites nacionais. Aqueles projectos que teriam significado e impacto para a maioria dos moçambicanos poucas vezes merecem prioridade de tratamento. Moçambique não se poderá tornar próspero com os seus cidadãos afastados daquilo que são as agendas que trariam desenvolvimento para o mesmo. Campanhas como a do Made in Mozambique são mensagens incompletas quando ministros e directores nacionais que a promovem, colocam seus filhos estudando no estrangeiro, depositam os dinheiros acumulados sabe-se lá como no estrangeiro, investem no estrangeiro. É fácil falar em nome do povo moçambicano, dizer que se está interessado e empenhado no seu progresso. Outra coisa é tornar isso alguma coisa que se possa ver realizado. Quem autoriza as licenças de corte e exportação de madeira sem respeitar os limites impostos pelos critérios de exploração racional sustentável de recursos naturais renováveis não ama seu país. Quem se limita a atribuir licenças para a captura de camarão sem respeitar e observar as limitações naturais, o ciclo de reprodução e crescimento do recurso não ama seu país. Este amar de que falamos não tem nada a haver com romantismos decalcados e vazios de conteúdo. Trata-se de sentido de Estado e governo independente, soberano por parte de quem está exercendo funções governamentais. Trata-se de um atitude e postura que os partidos políticos e governos adoptam no sentido de preservar a independência nacional e garantir a defesa dos interesses nacionais e sobretudo agir no sentido de colocar os cidadãos no centro e não periferia das agendas. Trata-se da promoção da cultura de participação, tolerância, inclusão e sentido de servir a pátria que é de todos nos. Quando este sentimento para com o país está em deficits graves observa-se a sua substituição por uma corrida ao saque, roubo, aproveitamento ilícito, crime, nepotismo, destruição dos valores ético-morais e culturais essenciais para a construção da fibra nacional. Aquela fraqueza parlamentar muitas vezes denunciada deriva da ausência de um sentido de pertença a uma entidade nacional, a nação. As diversas opções em prática são feitas sem contar ou considerar as consequências para aquilo que e o todo e a nação. Daí toda esta miséria inaceitável e incompreensível…
(Noé Nhantumbo)
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 30.05.2008

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