sexta-feira, 16 de maio de 2008

Salve o Estado, por favor!

publicado pelo jornal ZAMBEZE
As lutas internas no Partido Frelimo estão ao rubro, como é fácil qualquer cidadão aperceber-se a partir das encenações com que ultimamente nos vêm presenteando, embora haja quem pretenda iludir os já iniludíveis cidadãos.
Não fora o facto da credibilidade do Estado – de que todos nos orgulhamos e que carece da nossa intransigente defesa – estar a ser posta em causa – infelizmente – por estas coisas que se vão passando, deixaríamos sem qualquer tipo de reparo o que está a acontecer já sem qualquer espécie de pudor até entre paredes onde é soberana a magistratura judicial.
E se não fossem as lutas inter alas no partido do Governo estarem também a lançar fumaça para as bandas do sistema de Justiça, prejudicando a imagem de separação de poderes indispensável à credibilidade do Estado de Direito que a Constituição da República de Moçambique preconiza, então por certo que o melhor seria estarmos calados, a assobiar para o ar, a ver os programas da TVM até nos dar o sono, ou a ler livros de histórias da carochinha ou do Tio Patinhas… Assim fosse e ao menos teríamos o prazer de uma semanita sem a visita dos habituais ilustres que não nos largam a porta e só sugerem que se imagine, com cada vez mais razão de ser, que afinal a ideia de que há por perto "justiça" com influência de poderes de "outras galáxias" pode até ter alguma razão de ser.
As revelações do deputado da Assembleia da República pela Bancada do Partido Frelimo, Dr. António Frangoulis, ao intervir esta segunda-feira no julgamento que decorre sobre o alegado atentado ao causídico António Albano Silva fizeram entornar o caldeirão.
Já em entrevista concedida à STV, o Magnífico Reitor da Universidade Eduardo Mondlane, Padre Filipe Couto, reconhecera que as águas estão turvas pelas bandas do seu partido e chegara mesmo a admitir que uma cisão pudesse estar a desenhar-se.
Não queremos por ora entrar em qualquer tipo de debate que diga respeito a esta ou aquela entidade privada, mesmo que se trate de quem tem por vocação a gestão do Estado e por essa razão tudo que se passe no seu seio diga também respeito a toda a Nação e, sobretudo, aos cidadãos. Mas, sinceramente, o que está agora à vista de todos – só não vê quem não quer !!! – é que o País está com um grave problema em mãos. E por resolver, diga-se em abono pelo menos de uma parte da verdade.
Que problema é esse? perguntarão os cidadãos.
Pois é relativamente simples: temos a governar-nos um Partido em que andam todos às cabeçadas, falando mal uns dos outros pelas esquinas e cafés, tendo chegado agora às salas do Tribunal as maiores barbaridades que alguma vez pensássemos vir a ouvir, Desde que andam a querer-se matar uns aos outros, até que A e B estão feitos com o crime organizado. de tudo um pouco nos estão a fazer saber. E não nos surpreenderia nada mesmo que mais por aí venha para enxovalhar A ou B, deixando associado a isso, infelizmente, o bom nome do Estado. Por associação de ideias, é claro!...
Toda a Imprensa está a reportar o que se passa dentro da sala do Tribunal da Cidade de Maputo onde está a ser julgado o mediático caso do alegado atentado ao advogado António Albano Silva. Ninguém ignora o que está a acontecer.
"É um escândalo !!!..."
Resumem-se nisso os comentários que se ouvem por todo o lado.
Não se pode ignorar que, ali no Tribunal em que se julga o "atentado", está o marido da Primeira-Ministra. Quer se queira quer não é também o marido da Primeira-Ministra que ali está. Qualquer coisa que acontece com o filho da Rainha de Inglaterra, a rainha não deixa de ser referida. São, afinal, contingências das figuras públicas.
Sabe-se que a Primeira-Ministra é uma destacada figura da Comissão Política do Comité Central do Partido Frelimo. E quer se goste, quer não, tudo o que se está a passar no Tribunal está a ser conotado pela opinião pública como reflexo do clima que se vive dentro do Partido Frelimo. E, ao virem ao de cima as intimidades que existem entre o «Batuque & Maçaroca» e o Semanário «DOMINGO», ainda mais isso se fez notar.
O assessor editorial do «Domingo», Augusto de Carvalho, sabe-se que é sócio, em empresas, do presidente do Partido Frelimo, Armando Guebuza. Salomão António, jornalista do «Domingo» ou do «Notícias» a quem Albano Silva também "pede para ir ao tribunal" depor "por imperativo nacional", é marido da vice-presidente da Assembleia da República, Dra. Verónica Macamo. Tanto Verónica como Luísa Diogo são membros da Comissão Política do Comité Central do Partido Frelimo.
Não há sítio para onde se possa olhar que neste processo não apareça alguém do Partido Frelimo. Se não é o falecido filho do ex-presidente do Partido Frelimo, é o marido da Primeira-Ministra. Ou é o marido da vice-presidente da Assembleia da República pelo Partido Frelimo.
É também um deputado do mesmo Partido que agora põe a boca no trombone e parte toda a louça de cristal.
Zacarias Cossa e Nataniel Macamo são figuras de confiança. Eram pelo menos quando o Chefe de Estado era Joaquim Chissano.
Almerino Manhenje era ministro do Interior e ministro na Presidência para os Assuntos de Defesa e Segurança e era então membro da Comissão Política do CC da Frelimo e ainda é membro do CC. Anibalzinho disse agora neste julgamento que decorre que nunca fugiu mas foi Manhenje que o tirou ou mandou tirar.
É triste, francamente triste, que alguém com autoridade para o fazer não ponha definitivamente termo a esta situação muito desagradável.
O bom-nome do Estado está agora em causa. Pelo menos indirectamente em causa. O bom-nome, do próprio Partido que esteve na génese da nossa independência, também.
A Procuradoria Geral da República, que se saiba, ainda não começou a agir perante tão graves insinuações que deveriam no mínimo estar já a suscitar tantos processos autónomos quantos os necessários para se devolver dignidade ao Estado em nome do qual essas figuras agiram quando promoveram aquilo de que agora estão a ser acusadas. Elas certamente também quererão uma oportunidade mais adequada em termos processuais para se defenderem. Nada acontece. O tema é quente!...
Estas coisas começariam por serem bastantes para que imediatamente o Presidente da República fizesse uso dos seus poderes e agisse para separar o Bom-nome do Estado de todo o escândalo que está a vir ao de cima na sala de audiências. E como também o Chefe de Estado é o presidente do Partido Frelimo, encaixar-lhe-ia que nem uma luva, e sair-se-ia por cima, com certeza, se tivesse a coragem de permitir que o Tribunal não se visse entalado entre alas do partido no poder, agora publicamente desentendidas. Os demais militantes da Frelimo também reclamam por mais dignidade para o seu próprio partido.
Se agir já, o Presidente Armando Guebuza ainda é capaz de ir a tempo de evitar que o envolvem no escândalo que já ninguém pode esconder.
Livrem-nos a nós de ainda nos virem acusar de má fé por alguém se encontrar a passar por momentos difíceis e não avisarmos!...
ZAMBEZE - 15.05.2008

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